19 de outubro de 2020

Levantamento aponta aumento de estupro contra mulheres e genocídio da juventude negra. Basta!

A cada 10 pessoas mortas por policiais nas periferias do Brasil, oito são negras. A cada oito minutos uma mulher é estuprada no país. Essa triste realidade que chama atenção para o machismo e racismo existentes na sociedade foi elucidada pelo Anuário de Segurança Pública de 2020.

O levantamento foi feito com base em dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), por meio de boletins de ocorrências nos estados.

Mesmo em meio à pandemia, com o isolamento social, com menos pessoas circulando nas ruas, os números de mortes desta parcela da população foram elevados, com policiais fazendo operações nas favelas e mulheres sendo mortas dentro de casa.

Jovens negros são as maiores vítimas

Em 2019, 79% das vítimas de assassinatos cometidos por policiais eram negras, destas, 74% eram jovens com menos de 29 anos; três de cada quatro pessoas mortas tinham essa faixa etária.

Outro dado alarmante é de que para cada policial assassinado no Brasil em 2019, 37 pessoas foram mortas por policiais, de acordo com o Anuário. Existe a comprovação do modus operandi da polícia no país do “atira primeiro, pergunta depois” . Dados que apontam a face mais perversa do capitalismo atrelado ao racismo.

Se não são mortos pelas mãos da policia, a população negra acaba sendo a maior vítima do sistema carcerário. Segundo o Anuário, mais de 755 mil pessoas foram presas, e dessas 66,7% eram negras e 32,3% brancas.

Machismo e racismo como signos da violência

O mesmo anuário revela um aumento de mortes de mulheres. A cada oito minutos uma pessoa do sexo feminino é assassinada no país.

Entre os homicídios dolosos, quando há a intenção de matar, o número aumentou de 1.834 para 1.861 (aumento de 1,5%).

As vítimas de feminicídio (assassinatos cometidos por violência doméstica ou discriminação de gênero) foram de 636 para 648 (aumento de 1,9%). Os casos de feminicidio aumentarem em 43% no período de 2016 a 2019.

As mulheres negras também são as maiores vítimas neste contexto, de acordo com o Anuário. Dos assassinatos cometidos por violência doméstica ou discriminação de gênero 66,6% tinham essa cor de pele.

Ainda de acordo com o levantamento, em 2018, a taxa de homicídio de mulheres negras foi quase o dobro da de mulheres não negras. Outro fato que aponta a intersecção entre machismo e racismo é de que o homicídio de mulheres não negras caiu 11,7% no período, a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4%.

A violência doméstica também aumentou em 5% em 2019, em comparação com o mesmo período no ano anterior. Uma agressão física foi registrada a cada dois minutos em 2019, o que representa mais de 266 mil casos.

Governo Bolsonaro em consonância com machismo e racismo

O levantamento do Anuário com registros de 2019 apontam a necessidade do combate ao machismo e racismo no país. Ao contrário disto, o presidente Jair Bolsonaro neste mesmo ano, reforçou discurso de ódio contra mulheres, gays e negros.

Em abril de 2019, em entrevista coletiva para a imprensa, Bolsonaro disse que o Brasil “não pode ser o país do turismo gay”. “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”, disse.

A declaração machista, sugerindo que as mulheres brasileiras poderiam servir de turismo sexual para os estrangeiros, somada à homofóbica, ao não respeitar a diversidade sexual no país, só confirmou sua postura preconceituosa e misógina.

Além disso, reforçou a imagem já perpetuada do país como paraíso do turismo sexual, que serve de porta para a exploração de mulheres e crianças.

Como se não bastasse o show de horrores, no mesmo período Bolsonaro pediu a retirada de circulação de uma campanha publicitária em que jovens negros eram os protagonistas. A campanha lançada pelo Banco do Brasil trazia diversidade racial e sexual, e era voltada para o público jovem.

Ao comentar o assunto, Bolsonaro confirmou a decisão e novamente deu uma justificativa absurda e preconceituosa de que não quer dinheiro público usado em campanhas que tratem sobre diversidade.

É preciso dar um basta

Para a integrante do Movimento Mulheres em Luta Marcela Azevedo, que também integra a Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas os dados atuais evidenciam a situação crítica que o país enfrenta. “É reflexo da combinação da falta de investimento em políticas públicas e do aumento do discurso permissivo e de naturalização da violência contra as mulheres. Infelizmente, estamos vendo essa postura nas diversas pessoas que se sentem tranquilas para defender o Robinho, por exemplo”, aponta, citando o caso do jogador, que mesmo condenado por estupor na Itália foi convidado para jogar no Santos, transação desfeita, após repercussão negativa.

Há ainda dados subnotificados no Anuário, cujos registros sobre discriminação e mortes por LGBTFobia e de injuria racial não foram devidamente informados. “Enquanto a violência machista salta aos olhos, apesar das dificuldades para denunciar durante a pandemia, outras formas de opressão seguem invisibilizadas nos registros oficiais, é preciso incorporar a tipificação de racismo e LGBTfobia nos crimes de violência”, alerta.

A integrante do Setorial de Negras e Negros da Central Maristela Farias, que compõe também o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe avalia que o crescimento do número de mortes de pessoas negras e mulheres no país “são fortalecidos pelo governo de Bolsonaro, que se elegeu com um discurso machista, racista e LGBTfóbico e se apoia neste discurso para cada vez mais oprimir e explorar a sociedade”, avalia.

Maristela reforçou a necessidade de lutar contra esse cenário de genocídio da população negra. “Por isso, é necessário conscientizar a população da necessidade de nos organizarmos para lutar e combater essas formas de opressão e exploração que são impostas, seja pelos governos seja pelos patrões”, conclui.

A CSP-Conlutas lançou um programa emergencial no dia 17 de outubro, que tem como defesa a luta contra o racismo, o machismo e a LGTBfobia. “É preciso acabar com a discriminação, desigualdades e violência aos oprimidos da nossa classe. Lutamos pelo fim do machismo, do racismo, da LGBTfobia, contra a política de encarceramento em massa e genocídio do povo negro. Nossas vidas importam!”, defende.

CSP-Conlutas com informações do UOL

19 de outubro de 2020

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