1 de janeiro de 2014

Servidores dizem ao governo que, sem negociação, ‘greve’ pode ‘recepcionar’ Copa

Servidores federais contestam Planejamento por tentar ‘amarrar’ salários a reajuste de 2012, enquanto governo revisou e até dobrou os contratos das obras da Copa
O governo Dilma Rousseff (PT) insistirá que o reajuste parcelado concedido em 2012 aos servidores públicos federais ‘amarra’ as negociações salariais até 2015. Foi o que ficou evidente na primeira reunião do ano entre representantes dos trabalhadores e do governo, ocorrida no Ministério do Planejamento em meio ao ato nacional promovido pela categoria em Brasília, na quarta-feira (5).


A visão, porém, foi rebatida de forma dura pelos representantes de dez das entidades sindicais nacionais do funcionalismo e três centrais (CSP-Conlutas, CTB e CUT) que estavam na negociação com o secretário de Recursos Humanos, Sérgio Mendonça: se até os custos das obras dos bilionários estádios de futebol para a Copa do Mundo tiveram seus preços alterados através de revisões dos contratos previamente firmados, porque o governo quer impor uma camisa de força aos servidores? Os 15% sobre a massa salarial parcelados em três anos, afirmaram os dirigentes sindicais, não são suficientes nem para repor a inflação do período. Eles mencionaram que alguns contratos dos estádios tiveram seus valores dobrados quando repactuados com as empreiteiras.


Copa e dívida pública
Dois pontos foram ressaltados pelos trabalhadores: as enormes despesas com a Copa, pagas pelos cofres públicos, e a generosa fatia do orçamento que é destinada ao pagamento de juros e amortizações de uma dívida pública que não pára de crescer – a reunião ocorreu no dia seguinte à divulgação de um novo recorde de lucro por um grande banco do país, o Itaú. Também aí a baixa disposição do Planejamento em negociar salários ficou evidente. O secretário de Recursos Humanos respondeu que mesmo que o governo economizasse mais com os juros das dívidas, estes recursos extras provavelmente não seriam destinados a pagar mais salários para os servidores. 


Já no início da reunião, da qual participou o chefe de gabinete da secretaria-executiva do ministério, André Bucar, Sérgio Mendonça mencionou o acordo firmado na greve de 2012. Disse ainda que as reestruturações nas carreiras promovidas pelo governo Lula resultaram em reajustes médios muito superiores à inflação. Os trabalhadores rebateram dizendo que a ‘média’ não era um bom parâmetro para definir a atual realidade salarial do serviço público. Também lamentaram que o governo abra tanto as portas para renegociar valores de contratos das obras da Copa e se negue a iniciar um debate sério com os servidores em torno da defasagem salarial e da inexistência da data-base, prevista com todas as letras na Constituição Federal.


Em dado momento, Sérgio Mendonça disse que os servidores pareciam viver em um mundo diferente do mundo do governo. “De fato nós estamos em dois mundos distintos, quem tem que lidar com a população somos nós, os servidores”, critica Adilson Rodrigues, dirigente da Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU) e do Sintrajud-SP, que participou da reunião.


Judiciário e as eleições
O secretário se comprometeu a apresentar até o Carnaval, antes de março, portanto, uma resposta do governo à pauta geral de reivindicações – que, além da data-base, traz ainda itens como paridade entre ativos e aposentados, incorporação de gratificações e retirada de projetos e medidas que ataquem os direitos dos servidores. Também concordou em fazer a interlocução para uma audiência com a ministra do Planejamento, Mirian Belchior, embora não tenha assegurado nada quanto a isso.


“Responder [à pauta] é um passo, mas nós queremos negociar ponto a ponto”, diz o coordenador da Fenajufe. Ele conta que, ao final da conversa, lembrou ao secretário do governo, e ele admitiu que foi assim, que os servidores do Judiciário e do MPU não assinaram acordo algum e estão unificados em busca de uma solução salarial antes das eleições. “Não houve acordo com a nossa categoria, se o Judiciário aceitou os cortes impostos, nós não aceitamos”, recorda Adilson.


Ao longo da reunião, os servidores frisaram a disposição da categoria em negociar e buscar saídas que contemplem as reivindicações e evitem a radicalização do movimento. “[O governo] vai assumir um risco que é bom evitar se só negociar após a greve instalada, [o risco] de ter servidores recepcionando as delegações e os turistas que vem para Copa nos aeroportos”, alerta o dirigente sindical.


LutaFenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho, da Redação,
e Caê Batista, enviado a Brasília

1 de janeiro de 2014

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