1 de janeiro de 2014

Estão vendendo a paixão do povo, diz torcedor na privatização do Maracanã

Com apoio do PT, PCdoB e CUT, governo do Rio deve entregar estádio mais tradicional do país a Eike e empreiteiras, após verba pública bancar obra de R$ 1 bi

Na sessão pública de privatização do que já foi o maior estádio do mundo e está sendo reformado ao custo de R$ 1 bilhão aos cofres públicos, tanto ‘arquibaldos’ quanto ‘ex-geraldinos’ foram barrados na porta. O governo de Sérgio Cabral Filho (PMDB) pôs policiais militares para cercar o Palácio Guanabara e impedir a entrada de quem desejasse assistir à abertura dos envelopes da licitação do Estádio Mário Filho, o Maracanã. Gás de pimenta chegou a ser usado para isso.

O edital de privatização previa acesso livre de populares à sessão. O estudante de direito Raul Victor, da Frente Nacional dos Torcedores, está entre os barrados pela PM. À reportagem, disse que o governo está vendendo um símbolo da maior alegria do brasileiro. “É uma paixão do povo, e eles estão brincando com isso, estão ganhando dinheiro com isso”, lamentou. Ele disse ainda que o Maracanã está sendo elitizado e que privatizá-lo é parte deste processo. “O povo está sendo feito de babaca”, afirmou, defendendo que o Ministério Público conteste a privatização na Justiça com base no descumprimento do edital.

Sem surpresas

Enquanto do lado de fora centenas de manifestantes protestavam, dentro do Palácio desenhava-se o que já vinha sendo cantado pela mídia e pelo movimento “O Maraca é Nosso”: o grupo liderado pelo empresário Eike Batista (Consórcio Maracanã SA, formado por IMX Venues e Arenas, AEG Administração de Estádios e Odebrecht Participações e Investimentos) despontou como favorito para ficar com o estádio e a exploração de seu entorno pelos próximos 35 anos, embora outro consórcio, liderado pela OAS, permanecesse na disputa, ainda não concluída. Pagará, por ano, pouco mais de 0,5% do valor da obra por isso.

Deputados e vereadores do Psol apoiaram os manifestantes e contestaram, durante a licitação, ocorrida na segunda quinta-feira de abril, o bloqueio à entrada de quem desejasse assisti-la. Por fim, a comissão de licitação decidiu liberar a entrada de quatro integrantes do movimento contra a privatização, mas, àquela altura, os manifestantes não aceitaram as restrições e declinaram do convite. “Não permitir a entrada da população é [inaceitável], desrespeita o edital”, disse o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol).

CUT ausente

Do carro de som, o petroleiro Manoel Cancela, diretor do Sindipetro-RJ, criticou a privatização e disse que o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) vêm tendo apoio da presidenta Dilma Rousseff em tão suspeitas transações. Os dois governos têm como aliados o PT, PCdoB, PDT e PSB, dentre mais de duas dezenas de legendas partidárias. “Militantes que estão nos partidos de Paes e Cabral estão aqui [na manifestação]. A CUT também não está aqui, mas militantes da CUT estão”, disse, ao criticar o apoio desta central ao governo. O próprio Cancela é petista e dirigente de um sindicato cutista. Apenas a CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), porém, participou do ato e apoia as mobilizações contra a privatização.

O ex-deputado federal Cyro Garcia, presidente do PSTU, disse que o Rio está sendo governado por um “ditador”. Afirmou ainda que a campanha em defesa do Maracanã vai continuar. “Não é por abrir um envelopezinho que a nossa luta vai terminar”, afirmou. “É uma vergonha o que estão fazendo no Rio de Janeiro”, disse a servidora Rosimeri Paiva, dirigente sindical da área da saúde, que participou do ato, criticando tanto a privatização do futebol quanto de hospitais públicos.

Luta Fenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho

1 de janeiro de 2014

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